Poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Lira Itabirana, fotografado da edição do jornal. Tornou-se viral… pela realidade desses dias… (Brumadinho) – um texto chamado de “profético”:
I
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
II
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
III
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
IV
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

Resposta ao Drummond
(35 anos depois)
O rio já foi doce
A Vale está podre de rica
A pergunta que fica,
que o tempo nos trouxe:
Vale a pena?
Vale a pena, se a alma é pequena?
Fernando Pessoa já disse que não.
Mariana, Itabira, querem tirar a tua beleza
Te trocar por dinheiro, lucro e ambição.
Vale a pena?
Outrora, o metal foi o ouro
Que arrancaram do nosso Brasil
Para onde levaram o nosso tesouro?
Ninguém sabe, ninguém viu!
Ontem foi o ouro
Hoje ainda tem o ferro
Amanhã que será?
Só choro e berro?
O choro da mata
O berro do macaco
Sedentos por água
Por alguém que os salve.
Vale a pena?
Acorda Brasil varonil
Teu destino não é ser servil
Feito mera colônia global
Rejeitar qualquer tipo de lama
Seja tóxica ou de qualquer outra fama
Para enfim ser potência mundial.
Enquanto isso vamos aguardar
Que um herói de coragem dê jeito
Que nos salve destas barragens
Que nos livre desse rejeito.
Pois é, meu caro Drumond
A rapadura ainda é doce
Mas não é mole não!
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